terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

a vida não é quantas vezes você respira...

junto com o final das férias veio a minha falta de tempo e de vontade de escrever, seja aqui ou nos meus cadernos. confesso que parece que estou na primeira série e minha letra ainda é irregular, feia e trêmula.
mal de começo de ano.
e por falar nisso, esse ano já começou mal.
nada relacionado com a escola ou coisas assim, acontece é que meu tio - não que ele seja meu tio, mas é marido [ não que ele seja marido, mas é namorado que mora junto ] da minha tia - foi internado as pressas.
tá, não tão depressa assim.
ele fuma, bebe cerveja e cachaça todo dia, desconfio que "dê uns tiros" - use cocaína - e trabalha, é sustentado pela minha tia e não pode ter filhos - o que leva por água abaixo os sonhos que a minha tia sempre teve de ser mãe.
com isso, não é muito difícil que se pense que ele não é mais uma pessoa tão saudável assim, ainda mais com os cinquenta e tantos anos que ele já deve ter.
veja bem, eu que não uso drogas - pelo menos não frequentemente - vivo com medo de ter alguma coisa. quando tomo algum remédio em altas quantidades p. ter alucinações, por exemplo, que depois fico enjoada e passando mal e me desculpem a palavra, acabo vomitando já penso "nossa, se isso tá saindo de mim assim imagine como não estou por dentro, argh.".
pode parecer meio equivocado mesmo e não quero que não pareça, pq eu sou sem-vergonha mesmo. faço, finjo p. meus pais que nada aconteceu e que é só alguma reação adversa à algo que eu comi, me arrependo mas torno a fazer, algum tempo depois. se não bastasse isso, quando resolvo usar esses aditivos com uma frequência um pouco maior, tenho lapsos de memória e perdas momentâneas de noção - aquilo que não saber o que tá fazendo, quando tá fazendo, onde tá fazendo e porque tá fazendo.
ele teve a adolescencia dele lá pelos anos oitenta e era o auge das drogas, o aparecimento das sintéticas e a juventude transviada, a maconha, o álcool e a independência que vinha mais cedo junto com o trabalho e os estudos que normalmente não eram terminados, creio que eu não precise dizer que ele fez parte de tudo isso. sei pelo pouco que ele fala, pelas viagens que diz ter feito, pelos shows que diz ter ido e pelas milhares de vezes que diz ter ficado louco daquele jeito que a gente conhece.
então, já era de se esperar que acontecesse alguma coisa proveniente disso tudo. se o problema que ele tem é só esse eu já não sei, mas agora o que preocupa a minha tia e a gente aqui em casa até um nerd que não fez nada a vida inteira está sujeito a ter.
ele tem água nos pulmões que ocasionou ou foi ocasionada de uma pneumonia, que por fez foi ocasionada por gripes que não foram curadas totalmente.
um resfriadinho aqui, um ataque de tosses ali, vidros e vidros de xarope acolá.
agora ele tá lá em uma cama de hospital com a minha tia do lado e o travesseiro, o chinelo e cobertor dele que ela levou ante-ontem. com dores nas costas, dificuldades p. respirar, sensação de ter um deserto - pela areia - na garganta e um jeito estranho de falar, por causa do próprio deserto que agora fica ali na garganta dele.
eu não sei se ele se arrepende de ter feito o que fez a vida toda, se vai párar agora ou se vai continuar a vida dele de onde párou, como se nada tivésse acontecido e sem se preocupar p. não que aconteça de novo.
pessimismos à parte, eu não sei nem se ele vai sobreviver p. me contar como foi a estadia dele no hospital ou p. me explicar passo-a-passo como fazem p. tirar água dos pulmões, p. que caso um dia, quando - deus me livre.! - eu tiver, não fique tão assustada - ou fique.
acontece que a vida não é quantas vezes você respirou, mas quantas ficou sem fôlego; então depois desse final de semana, - e do tempo que ele passar internado - ele já pode se sentir com pelo menos uns dez anos a mais, não.?

- fica bem, tio.

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